terça-feira, 31 de março de 2009

“A IMPRENSA NÃO VIVE SEM UM CASAL NARDONE”


Essa frase é de uma amiga, Dona Mercês, pessoa muito querida no bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano. Enfarada com tanta cobertura jornalística sobre o caso da menina Isabela, que fora atirada da janela do apartamento pelo pai e madrasta, não hesitou: desligou a tv e disse com sabedoria:
- A imprensa não vive sem um casal Nardone!
A campanha da fraternidade de 2009 convida-nos a refletir sobre a questão da violência pública. A leitura e a reflexão do texto-base nas comunidades permite ao cristão um novo posicionamento sobre seus direitos e deveres frente a esta realidade de violência, mas sobretudo reavivar as esperanças e trabalhar para criar uma sociedade onde prevaleça a paz e a justiça de Deus.
Poderíamos arriscar dizer que as campanhas de todos os anos nos remetem à busca contínua da paz. Foi assim no ano passado com a “Fraternidade e defesa da vida”; em 2007, Fraternidade e Amazônia; em 2006, Fraternidade e pessoas com deficiência e em 2006, Fraternidade e Paz, “Felizes os que promovem a paz”; enfim, todos os anos temos o privilégio de estudar o evangelho com o foco num determinado tema, a partir de uma realidade que mereça atenção (e ação) da comunidade de cristãos, ou “ o Evangelho é a proposta da Campanha da Fraternidade para formação da consciência das pessoas”, conforme o item 264 do texto-base.

Meios de comunicação
Voltando ao ano de 1989, quando o tema da Campanha da Fraternidade era “A Fraternidade e os Meios de Comunicação – Comunicação para a Verdade e a Paz, queremos refletir, neste espaço, sobre a contribuição que alguns veículos têm oferecido para a cultura da violência.
Vemos com grande preocupação que a consciência das pessoas é seriamente agredida todos os dias pela chamada indústria do medo. Indústria que induz as pessoas a se defenderem com muros cada vez mais altos, eletrificados, monitorados; carros somente com vidros fechados, compras somente na falsa ilusão da segurança dos shopping’s centers e uma infinidade de outras ações que praticamos inconscientemente.
No capítulo 1.2, itens 21 a 24 do texto-base, “(In) segurança objetiva x (in) segurança subjetiva, mostra-nos que a maioria desses atos são imaginários, ressaltando que devemos distinguir entre os tipos de insegurança no que se refere à questão da violência em suas múltiplas manifestações, uma reflexão sobre o papel do Estado para garantir segurança e a Segurança como percepção coletiva, o que nos remete à sua dimensão subjetiva, porque esse conceito está vinculado a outros fatores como confiança, certeza, firmeza garantia, etc. Sobretudo, significa ausência de riscos e perigos.
Merece destaque nesse contexto, ainda segundo o texto-base, a força dos meios de comunicação na potencialização ou minimização desse estado de insegurança coletiva, destacando com muito mais evidência os crimes convencionais, praticados pelas pessoas comuns em contraposição aos crimes não convencionais, crimes normalmente praticados por pessoas das camadas mais abastadas da sociedade ou até pelo próprio Estado.
É facilmente observável essa situação em nossa cidade. Os jornais populares, os chamados jornais de R$0,25 (vinte e cinco centavos) são fartamente consumidos pela população, em detrimento de outros jornais com real interesse na informação. As pessoas os lêem com avidez. Um único exemplar permanece nas mesas das fábricas, dos escritórios e balcões de botequim até que o papel se deteriore ficando sem condições de leitura. Os crimes são comentados e geram sempre assunto de mais violência. E o que nem sempre é observado é a origem das notícias. Crimes estes, praticados em outras cidades, em outros estados.
Certamente, essa situação tem alimentado nas pessoas e na coletividade uma cultura de violência, porque esse tipo de comunicação “entorpece” a mente das pessoas, tornando-as sempre objeto da ação, nunca sujeito participante delas, ou seja: cada vez mais passamos a acreditar num mundo cada vez mais violento. O instinto de defesa cresce com a mesma intensidade e, sem que percebamos, também ficamos violentos. Passamos a aceitar com naturalidade a violência porventura existente em nosso meio social, sem esboçar qualquer atitude de reação contra elas.
Assim, justifica-se a atitude de pessoas simples como a Dona Mercês ao desligar a tv, diante do bombardeio de notícias de violência. Devemos ler jornais sérios, ter atitudes de vida, participar mais da Igreja e outros ambientes de promoção humana. É importante que o cristão consciente de seus direitos e deveres entenda o real significado da Campanha da Fraternidade desse ano, que é promover uma cultura de paz. E entenda que pequenas atitudes são importantes para combater toda essa neurose de violência que impera em nossa mente e em nossa sociedade.

José Aparecido SouzaComunidade Nossa Senhora Aparecida - Iguaçu

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